terça-feira, 31 de maio de 2011

A Ultima Manhã de Joana



Era uma manhã fria como hoje
Um dos guardas vai até a cela chamar Joana, mas ela já esta acordada
Na verdade, nem dormira naquela noite, aquela longa noite...
Lá fora, camponeses colocavam as ultimas lenhas na fogueira.
Por uma janela distante, um "representante" de Deus se excitava com a cena.

Um dos guardas sentiu pena da jovem, mas não poderia mais ajudá-la...
Outro, sorria do que aguardava aquela mulher, esperando vê-la nas chamas.

Desde cedo a Praça já estava lotada.
Com um vestido branco, ela saiu escoltada por vários homens
Como se fosse possível alguma reação da moça
À colocaram numa imensa fogueira e a amarraram suas mãos.
Mãos brancas que tanto segurou a cruz de seu Deus e também uma espada defendendo seu pais.

Que tantas vezes orou por aquelas mesmas pessoas que ali estavam
Mas elas agora estavam em estase, queriam logo vê-la queimar.
“Bruxa, bruxa! Queimem a bruxa!” - gritava uma velha desdentada com um cajado.
“Acendam logo a fogueira!” – Pedia um velho que tinha que trabalhar.

De olhos arregalados, um menino fitava a tocha na mão do carrasco.
Outras crianças brincavam de roda, cantando alegremente.
Alguém olha o relógio e faz o gesto para o carrasco. Já são nove horas.
Esta na hora... As chamas sobem rápido.

As pessoas ficam eufóricas vendo as chamas tomar conta da moça
Ela fica semi-nua após o fogo queimar suas vestes.
Mas nem um grito de dor para raiva do inquisidor.
Apenas duas palavras ela exclamou: Jesus, Jesus!

O cheiro de carne queimada paira no ar
As pessoas que ali estão, se esquentam no calor das chamas de Joana
Outras, babando de prazer, querem ver de perto como ficou o corpo
Outras voltam para sua rotina de servir àquele governo

Cavalos, burros e outros animais que ali estavam não entendem aquela cena.
Porque os homens fizeram aquilo...

Abaixam a cabeça e continuam pastando tranqüilamente, pois são inocentes.


Silvio Monteiro
31/05/2011 – 09:45

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